entrevista

Novo presidente da Câmara diz que prefeito não dialogou com vereadores

Jaqueline Silveira

Fotos: Charles Guerra (Diário)
Vereador Alexandre Vargas foi eleito presidente da Câmara de Vereadores de Santa Maria após rompimento de seis vereadores da base governista

Em uma virada de jogo, seis vereadores da base do governo Jorge Pozzobom (PSDB) romperam o acordo selado em 2017 e, com a ajuda da oposição, conquistaram a presidência da Câmara de Vereadores de Santa Maria, impondo uma derrota à gestão tucana. Estreante no Legislativo, o ex-lateral do Riograndense e atualmente fiscal da prefeitura Alexandre Vargas foi eleito presidente da Casa para este ano.

Obreiro da Igreja Universal, como se define, o novo chefe do Legislativo fala dos planos para administrar a Casa, da polêmica obra da nova sede da Câmara e da relação com o Executivo após rompimento do acordo com o governo e a exoneração dos cargos de confiança na prefeitura.

Confira os principais trechos da entrevista ao Diário:      

"NÃO TEVE DIÁLOGO DO PREFEITO"

Diário de Santa Maria - Quais são suas principais prioridades neste ano à frente do Legislativo?
Alexandre Vargas - Estamos vendo como está a situação da Casa. Vamos verificar e resolver problemas nestes dois primeiros meses. O orçamento vai ser fechado no dia 8. Por exemplo, a Casa não tem gasolina nem para os veículos oficiais, além de outros problemas. Vamos verificar a documentação da obra (da nova sede do Legislativo), que até agora não verificamos, para ver o que faremos. O certo é que não pode ficar do jeito que está.

Diário - Os veículos estão parados?
Alexandre - Temos um veículo que está com somente meio tanque. Vamos ter que economizar nos veículos oficiais. Os vereadores vão precisar aguentar um tempo para receber a cota. Em janeiro, provavelmente vão ficar sem.

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Diário - A obra da Câmara, parada desde 2013, é polêmica e, inclusive, há apontamentos do Ministério Público de Contas para a devolução de valores por ex-presidentes, e o senhor disse que não pode ficar do jeito que está. Qual a sua preocupação nesse sentido?

Alexandre - Tivemos acesso a alguns documentos, mas só agora vamos entrar no projeto da obra. Vamos verificar o que aconteceu e como resolver. A secretária-geral me falou que a empresa (para retirar os excessos da construção) pediu mais 20 dias para iniciar o trabalho. Vamos fazer de tudo para que ande. Queremos tomar uma decisão correta. Se tiver que fazer audiência pública para saber o que fazer com o prédio, faremos.

Diário - O senhor, então, tem dúvidas se essa obra deve continuar?
Alexandre - Sim, pelo que a gente sabe do projeto é que seria exclusivo aos vereadores, com 21 ou 23 gabinetes. Estamos analisando e vamos tomar a decisão junto aos 21 vereadores.

Diário - No final do ano, houve a ruptura com o governo Pozzobom, do qual o senhor fazia parte. Como será a relação com o Executivo daqui para frente?
Alexandre - Na minha opinião, não teve diálogo do prefeito e das secretarias, principalmente de alguns integrantes do governo. Teve até falta de respeito com os vereadores.

Diário - Esse foi o motivo do rompimento?
Alexandre - Esse foi um dos motivos. Não viramos oposição, só rompemos o acordo. Eles (oposição) que se uniram a gente para votar a favor de uma chapa independente. Havia uns três meses que vínhamos conversando, principalmente porque nossos requerimentos não estavam sendo atendidos pela prefeitura. O povo nos cobrava muito nas ruas, nos distritos.

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Diário - Sobre a formação de uma chapa independente, havia muita interferência do governo Pozzobom na Câmara?
Alexandre - Algumas interferências, sim.

"A GENTE QUER QUE O VEREADOR POSSA VOTAR COMO QUISER"

Diário - Que tipo de interferência?
Alexandre - De votação. Os vereadores pensam no bem da cidade. Essa é a independência que a gente quer, que o vereador possa votar como ele quiser. Sem interferência nenhuma do governo. O que for bom para o povo, vamos aprovar, o que for ruim, não vamos aprovar.

Diário - O grupo dos seis estava ciente que os cargos de confiança na prefeitura seriam exonerados?
Alexandre - Quando nos reunimos, uma das questões foi essa, mas não a principal. Todos os vereadores abriram mão. Não vou ser hipócrita e dizer que cargos e espaços não são importantes para os partidos e para os vereadores. São importantes, sim! Mas resolvemos abrir mão disso. Se o prefeito quiser tirar os cargos, que tire. Trabalharemos para Santa Maria. Ano passado, todos os projetos foram aprovados. Eram projetos importantes para a cidade e vai continuar sendo assim o nosso planejamento.

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Diário - O grupo defendeu uma chapa em favor da comunidade. O que o bloco propõe? Mais cuidado com o dinheiro público, atendimento dos pedidos?
Alexandre - Nossas demandas não estavam sendo atendidas. Na reportagem do Diário sobre o prefeito (balanço de um ano de governo), houve 140 comentários e dois foram a favor dele. Aquilo prova que a população não está sendo bem assistida. Os requerimentos dos vereadores não estão sendo atendidos. Se forem atendidos, a população consequentemente será atendida. Somos 21 e só eu mandei cerca de 250 requerimentos. A gente sabe que é impossível fazer tudo, mas pelo menos o básico. Se tivesse conversa com o vereador para dizer "vai ser atendida essa rua, esse bairro na data tal, agora não tem condição", mas não tem nem isso.

Diário - E sobre economia na Casa e gastos com diárias. Haverá alguma medida?
Alexandre - Vamos ver como foi ano passado e como vai ser este ano. Temos algumas metas, mas vamos decidir em conjunto. Não vou decidir nada sozinho. Quero a opinião dos vereadores e cargos de confiança. Estamos consultando e analisando, indo aos servidores e perguntando. Quem entende mesmo, na Casa, são os permanentes (servidores do quadro). Vamos tomar uma decisão em conjunto nessas questões.

Diário - Sobre o concurso da Câmara, serão feitas novas nomeações? Pode ser prorrogado?
Alexandre - Tem casos em que não podemos mais chamar, como o da RP (relações públicas). O que estiver em andamento, vamos analisar. Temos cargos de jornalista e editor. Vamos analisar, caso por caso, e verificar o que a Casa precisa. Precisamos de contenção de gasto, mas sem prejudicar o funcionamento da Casa.

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Diário - O senhor é fiscal na prefeitura, pretende se licenciar da função, já que a presidência toma bastante tempo?
Alexandre - Não, vou continuar lá. A lei fala que desde, que tenha compatibilidade de horário, é legal. Vamos analisar esses primeiros meses, eu entro em férias, na próxima segunda-feira, da prefeitura, então terei 30 dias para ficar só aqui (Câmara). Eu vou analisar a questão de horário, como vai ser a agenda, porque eu nunca fui presidente, então eu não sei. Se precisar, a agente vai fazer a redução da carga horária na prefeitura. Como eu sou fiscal, eu posso compensar o horário no sábado. As horas que eu não posso fazer durante a semana, eu posso fazer no sábado.

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